Texto do pensador e vereador de Porto Alegre, Ricardo Gomes
Quando não se pode vencer um adversário em um debate, cria-se uma imagem distorcida do adversário - e passa-se a debater com a imagem criada. Essa é uma velha tática de pura desonestidade intelectual. A estamos vendo ser aplicada todos os dias na Câmara de Porto Alegre.
Diversos Vereadores em Porto Alegre tem adotado (e isso foi refletido em um projeto de lei aprovado) uma postura cautelosa e não radical: reconhecer a importância da economia para a manutenção das famílias sem abrir mão dos cuidados com a saúde. Isto é: conciliar cuidados com a saúde (uso de máscaras, álcool, medidas sanitárias) com a reabertura gradual da economia.
O Partido dos Trabalhadores não pode enfrentar essa posição moderada sem admitir que não está defendendo, veja só, os trabalhadores. O que fazem os petistas? Criaram um radicalismo falso, um “libera tudo e deixa morrer” que jamais foi defendido por ninguém na Câmara - e certamente não é o que está no projeto aprovado. Agora debatem falsamente com ele.
A essa tática somaram-se alguns jornalistas, para sucesso do estratagema petista. Não sei se por conveniência, medo, desaviso ou sinceridade. Cada um terá os seus motivos.
Em verdade, a contraposição não é entre os “libera tudo” e os “salva-vidas”. Ela é entre quem enxerga a realidade e quem nega a realidade. Um lado vê que os empregos vão sumir. Que com os empregos se vai o plano de saúde, a escolinha dos filhos, às vezes a moradia mais digna. Sem o emprego há mais miséria, mais gente dependente de programas de governo, mais dependência dos serviços públicos. Uma sobrecarga das escolas públicas e do SUS está logo ali, no horizonte. E serão enfrentadas por governos sem receitas (porque a atividade econômica é que sustenta os governos).
Do outro lado, uma velha fantasia, já testada e fracassada. Sem as empresas privadas, o pai governo cuidará das pessoas. Haverá mais programas sociais. Os gastos públicos gerarão demanda. Empréstimos com juro subsidiado criarão mais empregos. Se faltar dinheiro, é possível imprimir moeda! Plano Marshall! New Deal! Fácil, tudo se resolve nas mãos do Estado. Jamais funcionou, mas isso não é suficiente para demover quem nega a realidade.
Como disse Ayn Rand, “você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”. Ou vamos para um caminho de abertura responsável, com proteção às pessoas, ou vamos para o abismo.
Por Percival Puggina
Estava imaginando o que passou pela cabeça de um cidadão cubano quando tomou conhecimento da lista de convênios que Lula e sua comitiva assinaram com o governo de seu país na recente visita a Havana, espécie de Jerusalém do comunismo decrépito.
Há alguns anos, época em que muito debati com representantes dos partidos de esquerda, em especial membros de um muito ativo movimento de solidariedade a Cuba, ouvi deles que no Brasil existem miseráveis ainda mais miseráveis do que em Cuba. Eu os contestava dizendo que ninguém desconhecia a pobreza existente aqui, mas era preciso observar uma diferença essencial entre a situação nos dois países. Aqui, os pobres convivem com carências alimentares por falta de meios para adquirir alimentos; em Cuba, mesmo que o povo dispusesse dos meios, não teria o que adquirir porque a economia comunista, como se sabe, é improdutiva.
Esse é um dos motivos, dentre muitos outros, para que ninguém caia na balela de que o comunismo é bom para “acabar com a pobreza”. O que aconteceu com o setor açucareiro dá excelente exemplo. No final dos anos 1960, a URSS se dispôs a comprar 13 milhões de toneladas anuais de açúcar cubano, a partir da safra 1969/1970. O país produzia entre três e quatro milhões de toneladas, com tendência decrescente. Muitas atividades da ilha foram suspensas e comunistas do mundo todo foram trabalhar naqueles canaviais. Conseguiram sete milhões de toneladas.
Trinta anos mais tarde, quando fui a Cuba pela segunda vez, a safra 2002/2003 fora tão escassa que Cuba importava açúcar! Depois, a produção andou pela casa dos dois milhões de toneladas e no ano passado bateu em meio milhão. A história do açúcar é a história da balança comercial e do consequente déficit cambial cubano. Daí o pagamento não em dólares, mas em charutos ou “outras moedas” ... Daí também o motivo pelo qual, se você excluir estrangeiros residentes, turistas, membros da elite partidária e militar, a carência é generalizada.
Imagine então um cidadão cubano sendo informado pelos órgãos de divulgação do estado de que seu país firmara acordo com o Brasil sobre trocas de tecnologia e de cooperação técnica em agricultura, pecuária, agroindústria, soberania e segurança alimentar e nutricional, mudas, bioinsumos e fertilizantes, agricultura de conservação, agricultura urbana e periurbana; produtos alimentares prioritários para consumo humano e animal, reprodução de espécies agroalimentares prioritárias; uso eficiente da água, cadastro e gestão da terra e abastecimento agroalimentar. E mais biotecnologia, bioeconomia, biorrefinarias, biofabricação, energias renováveis, ciências agrárias, clima, sustentabilidade, redes de ensino e pesquisa (*).
Não sei se está previsto, mas se em tudo isso e em outros convênios também firmados, não ligados à produção de alimentos, o Brasil enviar cheque, pode escrever aí: vem charuto.
*Condensado de matéria da Agência Brasil – EBC, íntegra em https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-09/brasil-assina-acordos-de-cooperacao-em-varios-setores-com-cuba.