Por J.R.Guzzo
De um lado, o ministro e o STF se imaginam num combate de David e Golias – com eles, naturalmente, no papel de um intrépido David que luta para salvar “a democracia brasileira” do “ataque” imperialista de Golias para impor ao Brasil uma ditadura alienígena, fascista e que só pensa em dinheiro.
De outro lado, o governo Lula e o PT atravessam a rua, ou vão até a China, para pisar na casca de banana. Entram na gritaria histérica contra Musk e a favor de Moraes – e se oferecem como alvo para a artilharia que vem do outro lado, sem que Moraes, Musk ou o STF lhes tivessem pedido nada.
A encarregada de dizer as bobagens mais constrangedoras, por instrução do regime ou por decisão própria, foi a presidente do PT. Ela estava na China, para aprofundar mais uma “parceria” com o Partido Comunista local (já tinha feito a mesma coisa com o Partido Comunista de Cuba) e justo ali, numa das ditaduras mais agressivas do planeta, disse o seguinte disparate: Elon Musk quer impor uma ditadura no Brasil. Falar em “ditadura” numa viagem (paga pelo distinto público brasileiro, é claro) para a China? Que tipo de democracia ela acha que existe por lá?
Mas a extrema esquerda nacional é assim: na sua compulsão permanente para ofender o raciocínio lógico, tudo serve, inclusive exibir-se como combatente da democracia no mesmo momento em que “aprofunda” sua “parceria” com o Partido Comunista Chinês. É claro que o seu pronunciamento foi publicado no X que, segundo ela, quer transformar o Brasil numa ditadura subordinada à “direita global”.
Tudo o que Musk fez em relação ao Brasil, neste episódio, foi pedir a aplicação das leis brasileiras e o artigo 5 da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão. É o que mostram os fatos, na sua forma mais elementar. Alguém duvida que usuários do X foram e continuam sendo proibidos por Alexandre de Moraes de se manifestarem em seus espaços na plataforma?
Alguém acha que pedir a liberdade de expressão é uma ameaça ou um ataque à democracia brasileira? Enfim: qual dos dois, em sua opinião sincera, tem violado mais os direitos civis, o conjunto das leis e as liberdades públicas no Brasil – Musk ou Moraes? O PT acha que é Musk.
Por Percival Puggina
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares.
Castro Alves, Navio Negreiro
As perguntas que farei perturbam meu sono e são comuns ao cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros. Como não ser assim, se a nação se dilacera e degenera, o sectarismo se empodera, a burrice impera, o crime prospera, a política se adultera, a Têmis se torna megera e os omissos somem ou dormem? Só eu acordo nas madrugadas pensando nesses motivos pelos quais 41% dos brasileiros (1), entre os quais 55% dos nossos jovens (2), só não desistem do Brasil por não terem condições financeiras de arrancar as folhas de um passado sem esperança e redigir seu futuro noutro lugar?
Os responsáveis por isso conseguem dormir? A nação se inquieta pela apatia de representantes omissos que tanto lhe custam. Como é insignificante, aliás, a relação custo/benefício, somados o mal que fazem e o bem que deixam de fazer! Como conciliam o sono e a culpa? A que destroços, a cupidez e a conveniência pessoal em condomínio com a injustiça reduziram tais almas? Elas simplesmente somem dos plenários quando, da tribuna, algum de seus pares lhes cobra pela apatia e a destruição das instituições!
No entanto, a realidade que vemos é sinistra. O Estado se agiganta perante a sociedade a que deveria servir. A juventude recebe uma educação de qualidade vexatória, últimos lugares nos rankings internacionais do PISA e da OCDE; a cultura nacional está degradada e o próprio QI dos brasileiros, por falta de estímulos, pode estar em regressão. Há décadas, os discípulos de Paulo Freire controlam e tornam cada vez mais sectária a educação nacional, transformando-a numa fábrica de ignorantes miseráveis, com as bênçãos do Estado. Quem escapa dessa máquina de moer cérebros prospera e vira réu no tribunal da desigualdade!
Resultado: chegamos a setenta e cinco milhões de seres humanos dependendo da assistência social do Estado. Do Estado? Sim, sim, o ente causador de todo esse mal aceita sem qualquer constrangimento posar de benfeitor. A pergunta que poucos fazem é: “Se o culpado não for o Estado, quem haveria de ser?”. Certamente a culpa não pode ser imputada a quem decide investir, correr riscos, gerar empregos, pagar salários e ser extorquido com impostos, taxas, contribuições. Essa pergunta derruba século e meio de mentiras sobre os sucessos do socialismo.
Eu quero o meu país de volta! Eu o vi antes, imperfeito, mas humano. Não era uma Suíça, mas era um país amável. O Brasil tinha boa reputação. Hoje é um país de má fama. Eu o quero moderno, mas com aqueles bens do espírito e naquele ânimo nacional que se comoveu e se moveu solidário quando as águas cobriram o abismo no Rio Grande do Sul. Eu quero de volta a energia inusitada que, durante oito anos, saudoso do “meu Brasil brasileiro, mulato inzoneiro”, me levou para cima dos carros de som a verberar corruptos, defender a liberdade e resistir à perdição de uma nação.
Impossível não evocar os versos finais de Navio Negreiro, esbravejados por Castro Alves, se vejo avançar o poder da Casa Grande, a se refestelar em folguedos e extravagâncias, enquanto garroteia direitos de cidadãos outrora livres.
(1)
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/polarizacao-politica-41-dos-brasileiros-mudariam-de-pais-se-pudessem-diz-quaest/
(2)
https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2022/08/17/55percent-dos-jovens-brasileiros-deixariam-o-pais-se-pudessem-diz-pesquisa.ghtml