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Rede Goebbels de narrativas - 29.01.24


Por Percival Puggina 

 

         Lendo sobre Goebbels, lembrei-me da conversa pública entre Lula e Nicolás Maduro. Provavelmente, Hitler também recomendava a Goebbels que construísse uma boa narrativa e garantia a seus generais que ela seria melhor do que a narrativa dos que falavam mal dele – ingleses, norte-americanos e demais Aliados. Isto, porém, é mera especulação minha.

 

Através do trabalho de Goebbels, o Führer influenciou a estética e as expressões artísticas durante o Terceiro Reich, cobrando delas resultado político, ideológico e de afirmação da superioridade ariana. Joseph Goebbels sabia a importância dos meios culturais para a política e os usou para que a sociedade alemã refletisse a doutrina do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Impôs seu projeto ao cinema, ao teatro, à música, às artes plásticas, à arquitetura e à literatura. Com uma das mãos, criou a Casa de Arte Alemã e promoveu a exibição Grande Arte Alemã; com a outra, queimou milhares de obras ditas “degeneradas” porque não cumpriam o dever de espelhar e proclamar a superioridade biológica do mesmo povo que levavam para o abismo da guerra.

 

É curioso que, apesar da multiplicidade das competências de Goebbels em várias áreas de conhecimento, sua fama reverbere apenas o sujeito que falou sobre a eficácia da mentira contada mil vezes. Merecido epitáfio! De fato, a mentira foi eixo de sua sinistra existência, em cujos atos finais matou a mulher, os seis filhos e a si mesmo.

 

Enquanto ele se dedicava a tratorar culturalmente a Alemanha de seu tempo (1933 a 1945) para a colheita de Hitler, um grupo de marxistas judeus alemães criava e começava a operar a Escola de Frankfurt (1930). Nela, filósofos e cientistas sociais como Horkheimer, Adorno, Marcuse, Fromm, Benjamin, Pollock desenvolveram ideias anticapitalistas e avessas ao comunismo soviético. Seus trabalhos, nas décadas seguintes, foram usados para atacar pelo lado esquerdo as bases da tradição judaico-cristã. Nas bibliotecas universitárias, as obras desses autores estão, ainda hoje, na altura dos olhos de quem percorre suas prateleiras.

 

Naqueles mesmos anos trágicos da década de 30 do século passado, Antônio Gramsci escreveu os famosos “Cadernos do Cárcere” (1929-1939) na casa de reclusão de Turi onde cumpriu pena até dois dias antes de morrer. Suas anotações revolucionaram as estratégias comunistas, mostrando como a manipulação dos meios culturais permitiria estabelecer a hegemonia de “uma nova forma de consciência” e capturar a ordem política nas sociedades capitalistas. Há 90 anos, portanto, o pensamento revolucionário, totalitário e desumano, já conhecia a importância política da cultura.

 

Em 1933, a Escola de Frankfurt, fugindo da perseguição nazista, migrou para os Estados Unidos. Certamente por isso aquele país disponibiliza o maior arsenal bélico à guerra cultural contra si mesmo e contra o Ocidente. “Mas e o Brasil?”, perguntará o leitor. Como tenho repetido, a esquerda brasileira “copia, traduz e cola”. Copia do idioma inglês as receitas para desagregação da sociedade e demolição do Ocidente, traduz para o português pelo Google Translator e cola em seus estudos, cartilhas e bibliografias. Serve-se, pois, do mesmo arsenal norte-americano e com ele orienta a produção das narrativas feitas sob medida para a realidade brasileira. Por isso, na falta de mato para carpir, Lula pode dar “aula de narrativas” a Nicolás Maduro.

 

A insurreição cultural em curso tem gerado no Brasil uma decadência dos padrões de convívio social. Parte essencial de sua estratégia inclui exatamente o combate à beleza, à verdade e às virtudes. Ela exige a degradação do ser humano até sua desumanização, incluindo a bandidolatria, o aborto, a cristofobia, o desamor à pátria, o relativismo moral, a liberação das drogas, etc. Pessoas das quais não se poderia esperar um compromisso com a mistificação repetem narrativas fraudulentas por condicionamento “da nova consciência” imposto pela repetição.

 

O advento das redes sociais, caóticas por natureza, rompeu a hegemonia da comunicação que se estabelecera no Brasil. Isso criou problemas para a dominação cultural esquerdista que seguia os velhos ensinamentos da Escola de Frankfurt, dos Cadernos do Cárcere e das ações com que Goebbels implantou o conjunto ideológico do nazismo na cultura do povo alemão. Todo o empenho em “regulamentar as redes sociais” quer, mesmo, impor a elas um silenciador, minimizando seu impacto.

 

A oligarquia que retomou o poder no Brasil depende, fundamentalmente, da Rede Goebbels de narrativas. Ela faz o trabalho cotidiano de bate-bate na mesma tecla que ficaria enfadonho e insuficiente se assumido pelos oligarcas em suas manifestações. Na prática, eles constroem as versões e a Rede, com habilidade e boa técnica, repete em escala nacional não mil, mas milhões de vezes, há décadas, as ideias e narrativas esquerdistas, frankfurtianas e gramscianas, prendendo-nos a um passado tão perverso quanto corrupto.

 

Os males que disseminam não proporcionam, porém, fundamento estável ao êxito que, por enquanto, comemoram.


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ERRAR É HUMANO. PERSISTIR NO ERRO É BURRICE. - 26.01.24


Por Roberto Rachewsky

 

Ser marxista convicto significa exatamente isso, optar pelo erro e não abandoná-lo nunca. É uma religião obscurantista e, como toda religião, é racionalista, mística, dogmática e falsa.

 

O erro dos marxistas já começa com um problema grave: a amoralidade. Não sabem o que significa certo ou errado porque lhes falta um padrão moral tangível, definido a partir da realidade e da lógica.

 

Pragmáticos não têm princípios, querem saber apenas dos fins que acabam justificando os meios. Marxistas não têm princípios, não têm fins e usam quaisquer meios para alcançar... nada.

 

Quem não tem princípios, não se contradiz. Está sempre bem com ele mesmo, independente do estrago que possa causar para si e para os outros.

 

Marxistas são deterministas, creem estarem imbuídos de um papel que lhes foi dado como agentes da justiça sob uma visão classista. São materialistas, querem o que não fizeram nada para criá-lo ou adquiri-lo virtuosamente. 

 

O mais calmo dos marxistas é o que melhor dissimula sua psicopatia. Todo marxista que troca a força por argumentos não passa de um medroso covarde.

 

Vejam aquele pobre-coitado que achou uma boa ideia boicotar empresas de judeus. Estúpido como os que erram e repetem seus erros, não titubeou, proclamou o mantra que moveu o austríaco do bigodinho esquisito a criar o nacional socialismo que conseguiu entregar ao mundo nada, a não ser ódio, guerra, miséria e morte.

 

Se é para boicotar judeus, por que o terrorista do Araguaia não começa boicotando o próprio marxismo, seja ele leninista ou trotskista? Afinal, Marx, Lenin e Trotsky eram judeus.

Marx se tornou ateu, apesar de ser neto de dois rabinos e de seu pai ter-se convertido junto com seus filhos ao protestantismo. Marx baseou sua ideologia no ateísmo, ele desprezava as religiões. 

 

Eu penso diferente. Marx dizia que a religião era o ópio do povo. Eu acredito que foi por isso que ele criou a sua própria, o marxismo, ideologia mística, dogmática, obscurantista e, de forma secular e kantiana, transcedental. É a religião que promete o paraíso aqui na Terra, logo ali, depois do horizonte.


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A CONTITUIÇÃO DE NARIZ QUEBRADO - 25.01.24


Por Percival Puggina
 
         "Crês que a oposição vai derrotar a esquerda com discurso sobre ética? Com teses sobre o Brasil? Com visão de história? Com críticas construtivas? Papo furado, cara!". Meu amigo continuou a descrever suas observações:  "O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando "o sistema".
 
Essa conversa aconteceu em algum momento do final do governo Dilma I e, no fundo, as coisas ainda estão muito parecidas com isso. A apropriação das mentes começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. Engrossa nos cursos fundamental e médio quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, dos discípulos de Paulo Freire, do politicamente correto e dos “coletivos” étnicos ou identitários. Vai promovendo a relativização da verdade e do bem, a tolerância com tudo que está errado e a intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros na ortodoxia esquerdista. E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da Globo, da cozinha dos jornais, do escambau. Se o convidarem para um Clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o Bolinha que manda é companheiro.
 
Quando eu estava desfiando a lista, meu amigo perguntou: "Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?", ao que eu esclareci - "De trabalhadores, claro". Mas ele me advertiu que também as organizações patronais se aparelham quando o partido assume o controle do Tesouro e do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou: "Por motivações opostas".
 
Ninguém pode acusar o PT e sua parceria esquerdista, quando fora do governo (de qualquer governo), de fazerem oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. Como o boxeador martela o fígado do adversário, sistematicamente eles cuidam de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio, supercílio, orelha. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, o que passam a cobrar de seus opositores? Colaboração e fidalguias. Talquinho e perfume. E até a pequena oposição que no Congresso Nacional resiste às tentações inerentes ao cabaré do Erário passa a ser acusada de radicalização e impertinência, polarização (!) e discurso de ódio.
 
Aqui, desde meu ponto de vista, o nariz quebrado que vejo é o da Constituição, o supercílio aberto é o do Estado de Direito, o lábio esmigalhado é o da liberdade de expressão e a orelha rasgada é a do direito à informação e do respeito à intimidade da vida privada.


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A polarização sadia é a chance da democracia! - 22.01.24


Por Percival Puggina
 
         Durante três décadas contadas da redemocratização (1985), passando pela Constituinte (1988), até a eleição de Bolsonaro (2018), o pensamento conservador, assim como o liberal, estiveram emudecidos. Tal silêncio era quebrado apenas, aqui ou ali, por eventuais articulistas dispersos em veículos da “grande mídia”. Entre estes, se agigantou o inesquecível e emocionante Olavo de Carvalho, com sua extraordinária obra intelectual e pedagógica. O notável mestre tomou para si o encargo de formar, desde o exílio em Richmond, na Virginia, uma geração de intelectuais brasileiros.
 
Desde 1985, eu fui um daqueles articulistas dispersos. Escrevia para jornais e participava de programas de debates. Ao longo do período, quem queria me depreciar usava os adjetivos conservador e liberal como xingamento. Eu agradecia a observação, mostrava surpresa com o esquerdismo confessado pelo interlocutor e ia em frente.
 
O teatrinho das tesouras montado pelo PT e pelo PSDB, ou seja, por Lula e FHC, obstruiu a propagação e a organização de movimentos conservadores e liberais, disponibilizando à esquerda todo o tempo do mundo para submeter a nação ao pesadelo gramsciano – a hegemonia do espaço cultural. Simultaneamente, porém, as décadas de encenação proporcionaram o tempo de observação necessário para que a verdade fosse percebida, mesmo no denso nevoeiro das narrativas: levavam-nos aos portais do inferno descrito por Dante. Dezenas de milhões de brasileiros se descobriram conservadores, liberais, de direita!
 
Nesse momento, Bolsonaro emerge da cena política com meia dúzia de ideias cuja validade a nação reconheceu. A partir daí, como fogo morro acima, o povo o pôs nos ombros e o levou às ruas e à presidência.
 
Os anos subsequentes são de passado bem recente. Não é preciso rememorar os meios e os caminhos pelos quais os magos da esquerda – cartolas na cabeça, com prestidigitações, panos vermelhos, sigilos, coloridas explosões e baforadas de fumaça – restauraram sua hegemonia.
 
Hoje, sabemos que o Brasil é parte do grande teatro onde se desenrola a guerra contra o Ocidente. Toda uma cultura e civilização – não por acaso as mais elevadas que a humanidade já conheceu – está sob ataque. O inimigo não é externo, mas interno. Seu plano de poder precisa promover o suicídio do Ocidente, com a morte de seus princípios e valores fundantes! O confronto é cultural, é político e se trava por humanidade, liberdade e democracia.
 
Quem comanda o que está em curso não quer que você perceba. Quer você submisso na senzala. Não o quer ciente e consciente, tendo a audácia de se posicionar contra progressistas, iluministas, socialistas, comunistas, Nova Ordem Mundial ou lá o que for que se reúna nas Casas Grandes da Praça dos Três poderes. Ou em Davos.
 
A oligarquia brasileira, embora não tolere apaziguamento e despeje discursos de ódio e xingamentos aos microfones, condena a polarização como se não devesse haver confronto ao que está em curso. Mas é disso que necessitamos! Só a polarização bem definida e só o antagonismo esclarecido, atuante e organizado podem restaurar a democracia no Brasil. A polarização sadia é a chance da democracia!


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O que explica a operação de Moraes contra Jordy, líder da oposição? - 19.01.24


Por Deltan Dallagnol

 

Ontem, o mundo político brasileiro acordou com a notícia de que o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição ao governo Lula na Câmara dos Deputados, foi alvo de buscas e apreensões decretadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Logo cedo, a imprensa noticiava que Jordy era investigado no STF por ter participado da organização e planejamento dos atos antidemocráticos, que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2023.

 

Durante todo o dia, a imprensa alinhada ao consórcio Lula-STF destacou trechos da decisão que afirmavam que Carlos Jordy tinha o poder de “orientar” e “ordenar” as manifestações antidemocráticas, “seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”. A narrativa que foi sendo criada e repetida dava a entender que haveria provas robustas de fatos graves. Contudo, li a decisão no final da tarde de ontem com o choque de quem vê uma montanha se contorcer, urrar, e parir um rato natimorto.

 

A decisão de Moraes contra Jordy, de 21 páginas, é muito fraca. Li muitas decisões do STF que determinaram buscas contra parlamentares, mas nunca uma tão frágil. Moraes reproduz, nas primeiras 9 páginas, trechos da representação da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR) que solicitaram as medidas cautelares. A partir da página 10, Moraes pinça dois fatos isolados e suposições não comprovadas da PF para deflagrar a operação policial contra Jordy. E quais são os dois fatos?

 

Li muitas decisões do STF que determinaram buscas contra parlamentares, mas nunca uma tão frágil

 

O primeiro fato é uma ÚNICA mensagem trocada entre Jordy e Carlos Victor de Carvalho (CVC), que segundo Moraes administraria vários grupos de WhatsApp com temática de “extrema direita” e teria organizado vários eventos antidemocráticos na cidade de Campos, no Rio de Janeiro. Eis a mensagem, trocada no dia 01/11/2022, que foi usada por Moraes como “bala de prata” contra Jordy:

 

“_CVC: Bom dia meu líder. Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo.

 

_JORDY: Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí? CVC: Posso irmão. Quando quiser pode me ligar”

 

Moraes se ampara no fato de que essa mensagem teria sido trocada no mesmo dia em que bloqueios de rodovias ocorriam em todo o Brasil, inclusive na cidade em que CVC agia. Moraes coloca extrema importância no fato de CVC chamar Jordy de “meu líder”. A isso se somaria o segundo fato: Jordy teria ligado para CVC enquanto este estava foragido, no dia 17 de janeiro de 2023. 

 

Com base nesses dois fatos, os únicos apontados na decisão, Moraes concluiu existirem fortes indícios de que Jordy era o responsável por orientar e comandar as ações de CVC. Além disso, Moraes convenientemente misturou os protestos, manifestações, acampamentos e bloqueios de rodovias daquela época, mas não ofereceu nenhuma prova concreta que ligue esses eventos a um núcleo central. 

 

E foi assim que Moraes decretou uma busca e apreensão contra um deputado federal, líder da oposição ao governo Lula na Câmara dos Deputados, com base em apenas uma troca de mensagens, em uma fundamentação de meia página. Não há nenhuma prova da prática de crimes, nem mesmo outros elementos informativos que deem robustez às graves alegações contra Jordy. 

 

A ênfase da decisão no fato de que Jordy foi chamado de “meu líder” por CVC e, por isso, seria mandante das ações organizadas por este, desafia a inteligência. É comum que pessoas se chamem umas às outras de “mestre” ou “chefe”. A expressão “meu líder” é particularmente comum nos corredores do Congresso, por conta da importância dada às lideranças partidárias. Eu mesmo fui chamado de “meu líder” mais de uma centena de vezes.

 

O argumento de Moraes é tão fraco que, na mesma troca de mensagens, Jordy e CVC se chamam mutuamente de “irmão” e dessa vez ninguém, nem a PF, a PGR ou Moraes, concluiu a partir disso que eles são irmãos. Da mesma forma, as falas não autorizam a conclusão de que Jordy estaria orientando a prática de crimes como o de golpe de estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, aventados por Moraes.

 

Não há nenhuma prova da prática de crimes, nem mesmo outros elementos informativos que deem robustez às graves alegações contra Jordy

 

A fala de que Jordy teria poder para parar tudo, aliás, não significa muito. Se ele fosse o comandante das ações, não precisaria ser comunicado disso. Some-se que ter o poder para parar um crime de outrem não faz a pessoa omissa responsável pelo crime de outrem, a não ser em casos muito específicos previstos no Código Penal (como o do salva-vidas e do policial), que não se aplicam à situação de Jordy.

 

Embasar as buscas no contato telefônico mantido quando CVC era tido como foragido da Justiça soa ridículo. Mesmo que houvesse provas de que Jordy soubesse onde CVC estava e que era foragido, o que é difícil quando tudo do 8 de janeiro é escondido no STF com um carimbo de sigilo, falar com foragidos não é crime. Tampouco é deixar de denunciá-los à polícia, salvo se você mesmo ajudá-los a se esconder.

 

A decisão de Moraes está repleta de presunções e especulações que não são comprovadas por nenhum outro elemento ou dado que conste no seu texto. Usualmente, as decisões explicitam os fundamentos fáticos e jurídicos que as embasam, porque juízes têm um dever de motivar suas decisões. Além disso, enquanto a Constituição atual estiver vigente, o ônus da prova é da acusação. 

 

Por fim, diante da fraqueza dos indícios e dos fatos, uma medida cautelar como a decretada, com invasão até mesmo do gabinete parlamentar de Jordy, é completamente desproporcional. Se não há justificativa jurídica razoável para a medida, o que a justifica então? Há três hipóteses levantadas no debate público, mas a primeira merece maior consideração.

 

Desde que Moraes deu várias entrevistas à imprensa no aniversário do 8 de janeiro, que culminou com a festa lulista da “Democracia inabalada”, aumentaram consideravelmente as críticas ao STF que apontam abusos e violações de garantias fundamentais dos réus. Uma das mais severas e recorrentes é a ausência da competência do STF para julgar os réus, sem foro privilegiado. Isso viola o devido processo legal, o juiz natural e o duplo grau de jurisdição.

 

Um dos argumentos utilizados por Moraes é o de que, apesar de os milhares de réus do 8 de janeiro não possuírem foro privilegiado, haveria um núcleo de parlamentares com envolvimento no caso. Entretanto, nenhum desses parlamentares foi denunciado e não há nem mesmo citação a eles em nenhuma das centenas de denúncias oferecidas pela PGR até agora. 

 

Além disso, há outro problema: a PGR pediu o arquivamento por falta de provas em relação aos parlamentares mais citados por Moraes em seus votos: André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP). Segundo revelou a Folha de S. Paulo, os pedidos de arquivamento estão no gabinete de Moraes para decisão há meses.

 

A ofensiva de Moraes contra Jordy pode, portanto, ser explicada como uma resposta suprema às fortes críticas. A busca e apreensão, por mais fraca que seja juridicamente, dá a Moraes e seus porta-vozes na imprensa do consórcio Lula-STF uma narrativa para legitimar a intervenção do STF, ainda que não resista a uma análise críitca.

 

Há duas outras hipóteses mais sinistras que explicariam as buscas e apreensões de hoje. A primeira é de que foram uma fishing expedition, ou pescaria probatória, que acontece quando alguém é alvo de buscas sem objeto definido para “pescar” provas de outros possíveis crimes não relacionados com as investigações. Trata-se de investigar pessoas e não fatos, o que viola o direito penal democrático. 

 

A segunda hipótese é de que as buscas objetivavam obter acesso ao celular e computador de Jordy, dando ao Supremo, que nas palavras de seus próprios ministros vive uma “lua de mel” com o governo Lula, acesso a todas as estratégias, conversas e diálogos da oposição, liderada por Jordy no Congresso. Não é preciso muita imaginação para compreender o estrago que informações sensíveis como essa podem fazer nas mãos do governo.

 

Se teve uma coisa que o caso Intercept me ensinou é a facilidade com que o acesso ao conteúdo do celular de uma autoridade pode servir para tirar de contexto, deturpar, mentir e desfigurar o trabalho e a reputação de pessoas. Qual o valor que o celular e o computador de Carlos Jordy têm? 

 

Essas três hipóteses, no entanto, são sabidamente absurdas, afinal, parte da grande mídia garante que a atuação do Supremo é estritamente jurídica e técnica, jamais política. Seria chocante pensar algo diferente. Trata-se, no máximo, de um equívoco do STF, se é que uma corte de seres supremos comete erros. Se você pensar diferente, cuidado, porque pode acabar como o jornalista Jackson Rangel Vieira, preso por mais de um ano sem denúncia depois de ter criticado o STF. 

 

E assim segue nossa “democracia inabalada”.


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