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O HACKER DA VAZA JATO E SEUS FIÉIS - 24.08.23


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Por Percival Puggina 

    

No submundo em que religião é business e o vigor da mensagem espiritual virou mercadoria, sempre me espanta a facilidade com que a clientela proporciona o milagre da multiplicação da grana. Ao escrever isso, ando muito longe de qualquer generalização, pois tenho respeito reverencial por quem se dedica honesta e piedosamente à salvação das almas. Repito: falo do submundo em que religião é negócio, onde a credibilidade dos operadores do empreendimento vira crédito e alcança contas bancárias e bens dos fiéis. 

 

É uma analogia possível, uma dentre tantas, com a situação do hacker Walter Delgatti Neto, cujas peripécias não devem agradar ao vovô desse neto. O criminoso agiu ou declarou ter agido para explodir a Lava Jato a partir de fragmentos de conversa, pinçados dos longos anos de muito trabalho da força tarefa que atuava em Curitiba. Mesmo assim, de estalo, formou-se verdadeira multidão de fiéis, unindo a calda grossa do jornalismo companheiro ou camarada, o topo do Judiciário nacional, os políticos e empresários buscando toalha para se secar da água e do spray na Lava Jato, e a torcida organizada da esquerda.

 

Os fragmentos de conversa vazados pelas artimanhas do hacker de Araraquara consagraram entre seus devotos a narrativa pela qual os referidos grupos ansiavam. Para eles, na Lava Jato, policiais, delegados, procuradores, magistrados estavam todos mancomunados para o mal. Só o hacker era do bem e seus fragmentos de conversa tinham o valor de um papiro com texto bíblico encontrado no sítio arqueológico de Qumram.

 

Como cidadão me sinto ofendido por saber que o homem da vaza jato, que tornou canônica a narrativa de Lula e seus amigos, agora condenado a 20 anos de prisão, ostenta um conceito que varia entre criminoso, psicopata, picareta, mentiroso crônico, mistificador, estelionatário. Mas foi com mãozinha dele e jeitinho de outros que Lula chegou à presidência da República.