HOMEGAGEM PÓSTUMA
Como os leitores bem sabem, não tenho por hábito escrever aos sábados e domingos. Entretanto, por conta do inesperado falecimento, nesta madrugada, do extraordinário jornalista J. R. GUZZO, achei por bem prestar a minha singela HOMENAGEM PÓSTUMA ao nobre colunista da Gazeta do Povo e integrante do Conselho Editorial da revista Oeste, através desta -EDIÇÃO ESPECIAL DE SÁBADO-, com a publicação do seu último e, como sempre, ótimo texto - SOVA DOS EUA FOI A MELHOR COISA QUE PODERIA TER ACONTECIDO PARA LULA NA SUA TERRA DO NUNCA-.Eis:
PETER PAN
Se a decisão fosse disponível neste momento para ele, Lula estaria vivendo com toda certeza na Terra do Nunca que a mídia brasileira criou. Nada do que acontece ali, ou muito pouco, tem alguma coisa a ver com a vida como ela é na realidade dos fatos. Em compensação, o presidente teria um mundo ideal por lá. Tudo o que ele faz dá certo. Nas matérias do tipo “quem ganhou e quem perdeu”, está sempre nos “quem ganhou”. Só tem vitórias. Nunca perde nada: eleição municipal, pesquisa de opinião, arcabouço fiscal. Não é o chefe de um governo senil, desmoralizado e corrupto, com zero de resultados em dois anos e meio. É Peter Pan.
A MIRAGEM DO MOMENTO
A miragem do momento é o que os comunicadores descrevem como a sua vitória no contencioso contra os Estados Unidos e Dunald Trump. Levou 50% de imposto nas exportações do Brasil para lá, e não conseguiu punir os americanos em nada – mesmo porque não tem a menor condição para fazer isso. Não conseguiu dar sequer um telefonema para Trump. A ficção de que Lula é um grande “negociador”, criada por ele próprio e aceita como verdade científica pela imprensa, não rendeu dois minutos de conversa com ninguém. Comprou uma briga com a maior potência do planeta sem ganhar nada em troca; não tinha, aliás, nada a propor.
TIRO NO PÉ
Seu único contato no exterior foi com Colômbia, Chile e outros anões que lhe deram apoio verbal, desejaram boa sorte e foram cuidar da vida. Seus imensos aliados no BRICS, a China e a Rússia, continuaram imaginários; não lhes passou pela cabeça criar nenhum problema novo com os americanos para ajudar o Brasil na briga. Muito pelo contrário: a CHINA, mais uma vez sem dar vantagem alguma ao Brasil, está desfrutando de uma inédita licença para entupir o mercado brasileiro com a importação de carros elétricos, que a propaganda lulista apresenta como fabricados “em Camaçari”. Festejaram a vitória da “soberania”, da “honra” e da “firmeza” do Brasil, mas ganhar alguma coisa de útil que é bom, nada.
Na mídia, porém, esse balanço miserável foi transformado num êxito histórico para Lula. Trump, por essa visão, deu “um tiro no pé”; não se explica o que ele perdeu, mas e daí? A popularidade de Lula, que vinha derretendo nas pesquisas, ressuscitou de um dia para outro. A “população”, supostamente indignada com os EUA, se juntou em apoio decidido ao presidente. O fracasso do seu governo se desfez sem que ele tenha tido de entregar um único mata-burro a ninguém. As sanções não terão efeito na economia; algum probleminha aqui ou ali, mas nada de sério. Lula, dizem em peso os analistas, tornou-se o grande favorito nas eleições do ano que vem – que estavam indo para o saco. Enfim, a sova que o Brasil acaba de levar foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para Lula na sua Terra do Nunca.